sábado, 2 de outubro de 2010

Jogos Olimpicos - Futebol 2004

O céu grego é alviceleste

A condição de favorita não vinha fazendo bem à Argentina, que fracassara na Copa do Mundo da FIFA Coreia do Sul/Japão 2002 e perdera a final da Copa América 2004 para o Brasil. O azar finalmente ficou para trás em Atenas, onde a albiceleste conquistou a sua primeira medalha de ouro olímpica, após duas pratas em 1928 e 1996.

O Torneio Olímpico de Futebol Masculino de 2004 foi notável pelo domínio da América do Sul, que colocou dois dos seus representantes na final apenas um ano depois de ter conquistado com o Brasil os títulos mundiais das categorias sub-17 e sub-20. Já a África, que vinha de duas medalhas de ouro, ficou muito abaixo do que se esperava e, assim como a Europa, conseguiu classificar somente um selecionado às quartas-de-final.

Por outro lado, a Ásia, a Oceania e a região da América do Norte, América Central e Caribe demonstraram o seu crescimento. A maior surpresa foi o Iraque, que chegou à semifinal apesar de ter enfrentado muitas dificuldades na preparação. O torneio também foi bastante ofensivo, com uma média de 3,16 gols por jogo.

Conquista indiscutível
Somente uma grande conquista ainda faltava na sala de troféus da seleção argentina de futebol: o ouro olímpico. Pois agora ela não falta mais. Com uma constelação de jovens astros, o selecionado comandado por Marcelo Bielsa não deixou pedra sobre pedra no caminho rumo ao título. O país balançou as redes 17 vezes em seis partidas e foi o primeiro campeão olímpico a conquistar o ouro sem tomar nenhum gol. Além de tudo, os argentinos também contrariaram a reputação de futebol violento ao levantarem, juntamente com o Iraque, o troféu Fair Play. Ou seja, o país tirou nota dez em todos os quesitos.

Os argentinos já mostraram a que haviam vindo na estreia, quando golearam o combinado de Sérvia e Montenegro por 6 a 0 em Pátras. A seguir, foi a Tunísia que saiu de campo derrotada por 2 a 0, antes de os comandados de Bielsa aproveitarem a classificação antecipada e vencerem a Austrália pelo placar mínimo em uma partida tranquila. Depois do descanso, foi a hora de massacrar a Costa Rica por 4 a 0 nas quartas-de-final.

A vitória mais contundente veio na semifinal contra a forte seleção da Itália, com um verdadeiro show de bola e uma goleada por 3 a 0. Para fechar a conta, em uma final totalmente sul-americana, a Argentina fez o dever de casa e derrotou o Paraguai por 1 a 0.

Na constelação argentina, brilharam as estrelas de Carlitos Tévez, artilheiro da competição com oito gols, e também do meia Andrés D'Alessandro e do volante Javier Mascherano — três jogadores que, coincidentemente, viriam a atuar no futebol brasileiro nos anos seguintes. Isso sem contar a eficiente dupla de zaga formada por Gabriel Heinze e Roberto Ayala. Só para se ter uma ideia da força da equipe olímpica argentina, Javier Saviola nem teve oportunidade de sair do banco.

Paraguai comemora a prata
Pouca gente imaginava que o selecionado paraguaio chegasse à final do Torneio Olímpico de Futebol Masculino, mas os comandados de Carlos Jara venceram um disputado Grupo C e ficaram mais confiantes nas fases finais. Após a vitória apertada por 4 a 3 na estreia contra o Japão e a derrota para a seleção de Gana por 2 a 1, os paraguaios surpreenderam o mundo ao derrotar a Itália por 1 a 0 no jogo que decidiu o grupo. A vitória, garantida com um gol de Fredy Bareiro, também foi o resultado de um ótimo trabalho defensivo comandado pelo experiente Carlos Gamarra.

O Paraguai derrotou a resistente seleção da Coreia do Sul por 3 a 2 nas quartas-de-final e passou pelo surpreendente Iraque por 3 a 1 na semifinal antes de perder por apenas 1 a 0 para a Argentina na decisão. Os corajosos guaranis mostraram grande entrosamento e eficiência ofensiva, com doze gols na competição, cinco deles marcados pelo experiente José Cardozo, de 33 anos, e quatro convertidos por uma das revelações do torneio, o atacante Fredy Bareiro. A defesa, apesar da experiência de Gamarra, não teve tanta facilidade e levou nove gols. Também tiveram atuações de destaque o armador Diego Figueredo e o meia Edgar Barreto, que ficara famoso no Mundial de Juniores da FIFA no ano anterior.

América do Sul domina; Europa e África decepcionam
Com dois representantes na final, a América do Sul confirmou a força das suas seleções de base. Entre as muitas explicações para o domínio sul-americano estiveram os métodos de treinamento avançados, a experiência dos inúmeros jogadores que atuavam nas principais ligas da Europa e a disputa da Copa América como uma preparação ideal em julho.

A maior surpresa, porém, foi mesmo o Iraque. O selecionado do Oriente Médio ficou em primeiro lugar no equilibrado Grupo C, superando Portugal e Marrocos. Com um futebol ofensivo, o país seguiu em frente ao derrotar a Austrália com um gol de Mohammed Emad, um dos seus principais jogadores, antes de ver o sonho da medalha ruir com derrotas para Paraguai e Itália.

Em um selecionado que se destacou pelo entrosamento, também mereceram menções especiais o atacante Mahmoud Younis e os meias Sadir Salih e Abdul Whahab Abu Al Hail. Mesmo impossibilitados de se prepararem no ano anterior, os iraquianos mostraram muita personalidade, repetindo sempre que o principal objetivo era levar um pouco de alegria para um povo tão sofrido. E foi justamente o que aconteceu, talvez ainda mais do que eles esperavam.

A África, por sua vez, não manteve a excelente tradição olímpica do continente. Somente Mali chegou às quartas-de-final, mas perdeu para a eficiente seleção italiana. Momo Sissoko e Tenema Ndiaye até mostraram algum brilho, mas o país não teve força suficiente para ir adiante. Já Marrocos e Tunísia sofreram com a falta de pontaria no ataque apesar de momentos esparsos de bom futebol. A seleção ganesa de Stephen Appiah teve uma boa atuação contra a Itália, mas não aproveitou a sua chance no jogo decisivo do grupo contra o Japão.

A ausência de jogadores importantes não liberados pelos clubes também pode ser incluída entre as razões do fracasso africano. Diante de tudo isso, a África decepcionou e ficou muito abaixo do nível das duas Olimpíadas anteriores, nas quais Nigéria e Camarões haviam levado o ouro depois de derrotarem o Brasil.

Do outro lado, as limitações europeias também ficaram expostas, com a notável exceção da Itália de Andrea Pirlo e Alberto Gilardino. O combinado de Sérvia e Montenegro, enfraquecido por muitas ausências, praticamente nem viu a cor da bola e conseguiu tomar 14 gols em três jogos. Apesar da vantagem de jogar em casa, a Grécia conquistou somente um ponto.

Mas o maior fracasso foi o da seleção portuguesa. Um dos favoritos antes do torneio, o selecionado lusitano já começou mal ao levar 4 a 2 do Iraque na estreia. Depois se recuperou derrotando o Marrocos por 2 a 1, mas decepcionou de novo ao perder por 4 a 2 da Costa Rica. Cristiano Ronaldo não se encontrou em campo, a defesa liderada por Ricardo Costa cometeu um erro atrás do outro e a disciplina ficou devendo, com 13 cartões amarelos e três vermelhos em apenas três jogos. A única boa notícia foi o meia-atacante Danny Alves.

Carlitos mostra seu potencial
Toda a torcida argentina lamentara a sua ausência do Mundial de Juniores da FIFA Emirados Árabes 2003, e o motivo ficou claro com as atuações de Carlos Tévez nos Jogos Olímpicos. Dos 17 gols da Argentina, Carlitos marcou oito - de praticamente todas as formas possíveis - e deu o passe para mais dois. Mesmo com alguma deficiência no jogo aéreo, Tévez deu uma ideia do sucesso que faria ao mostrar excelente posicionamento, aceleração, potência na finalização e oportunismo. Tudo isso com apenas 20 anos.

Seleções participantes:
Argentina, Austrália, Coreia do Sul, Costa Rica, Gana, Grécia, Iraque, Itália, Japão, Mali, Marrocos, México, Paraguai, Portugal, Sérvia e Montenegro, Tunísia.

Estádios:
Karaiskaki e Olímpico (Atenas), Pankritio (Iráclio), Pampeloponnisiako (Pátras), Kaftanzoglio (Salônica) e Panthessaliko (Vólos).

Número de gols: 101 (média de 3,16 por partida)

Artilheiros:
8 gols: Carlos Tévez (ARG)
5 gols: José Cardozo (PAR)
4 gols: Fredy Bareiro (PAR), Alberto Gilardino (ITA), Tenema Ndiaye (MLI)

Público total (somente torneio masculino):
401.415

Média de público:
12.544

fonte: fifa.com

Foto do Brasil vice campeão do mundo 1950

Foto do elenco (titulares e reservas) Imagem: CBF